quinta-feira, 18 de março de 2010

O Presente


Dou-te, sem pudor, tudo

que queres. Minhas mãos,

meu toque indeciso, olhares,

sentido, tempo, perdição,

solução, alívio e dor.


Dou-te todos os meus reflexos,

refrações e cores. Meu amanhecer

dourado, meu anoitecer prateado.

Dou-te a minha memória fraca,

minha lembrança mais íntima,

meu sorriso mais aberto,

meu abraço mais caloroso,

minha tristeza mais aguda,

minha alegria delirante...


Dou-te todas as verdades

e mentiras que vivi. Todas

as histórias que ainda viverei,

todas as páginas do livro

que escrevi e ainda estou

por terminar, mesmo que

sem fazer por merecer.

Dou-te minha sede, minha vertigem,

meu corpo cansado, minha derrota.

Dou-te meu oceano, minha horta,

meu vigor e todas as vitórias.

Todas as mazelas e remédios

que possa encontrar em meu caminho.


Dou-te, de peito aberto, o pulsar

do meu peito, o ranger dos meus

ossos, o calor das minhas idéias,

a origem dos meus gestos,

o brilho por trás dos meus olhos,

a lucidez da minha certeza,

o valor da minha essência.


Dou-te meu padecer exausto,

meu despertar vigoroso,

os passos da minha jornada.

Toda a energia que entra

em meus poros e passeia

pelo meu corpo. O meu sangue

a bombear pelas minhas artérias,

o ar que estufa meus pulmões,

as proteínas que me nutrem.


Dou-te a luz que me faz

enxergar, a escuridão que

me sossega em outros momentos,

a nebulosidade que me trás

a dúvida, e com ela, a resposta

para me manter em pé

diante à dias incertos...


Dou-te meu presente, passado

e futuro. Meu universo e todas

as constelações. Embrulho-me

não como lembrança, não como

objeto, mas sim na imaterialidade

que percorre seu pensamento,

sua presença e sua imaginação...