segunda-feira, 11 de julho de 2011

Luto.


Atenção ao som da chuva
que cai dentro e fora de ti.
Pensas que o mundo irá ruir
por apenas uma vida turva?

Não adianta encontrar culpa
aos devaneios já anunciados.
Aos sentimentos já enterrados,
só vermes e flores murchas.

Me arrastando na noite escura
não encontro a luz que me guiou
para longe das coisas amargas.

A minha alma, eterna viúva,
se afoga no luto que criou
por querer uma nova alvorada.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Rasura.


Uma história sem contexto,
personagens sem rosto,
ambientes sempre densos.
Muito ruído, pouco tratamento,
e o som se perde dos ouvidos.

Razões indefinidas, tempo curto,
olhares frios, poucas palavras,
e uma rasura em cima do restante
da história que mal começou
a ser escrita. Ao leitor, desrespeito.
Já ao escritor, apenas uma fantasia,
Ilusão sem coesão, sentimento incoerente.

Um fim ao breve começo.
Leva debaixo do braço
papéis com linhas tortas,
sem nenhum discernimento
sobre idéias e realidade.
A arte se perde novamente.
Resta agora esperar, quem sabe,
uma nova história ser escrita,
ou que esta seja, então, concluída.


Cinco minutos.


Mais uma bela música toca
antes que se anuncie o fim,
para assim recomeçar...
Cinco minutos sem agonia,
vertigem ou solidão.
Após isso, vem a queda.
O suor escorre, o ar se esvai,
a vista escurece. Se perde mais
em segundos do que numa vida.

Até que se retome a sanidade
e aquela razão adormecida,
mais cinco minutos são requeridos,
acompanhados de cinco lembranças,
cinco alegrias, cinco arrependimentos,
cinco novas idéias frias e mudas.
Os cinco sentidos ameaçando sentimentos.

Filtrando os pensamentos sombrios,
sobram algumas gotas em harmonia
para que sejam refletidas a imagem
de devaneios nunca antes percebidos.
Em cinco minutos perdidos no tempo,
apenas cinco palavras me vem à mente;
“Mais nenhum arrependimento será cultivado.”


Inferno.


Tudo de pouco e mais nada.
Sem mistério e perdição,
aprendi a mais dura lição
nessa jornada  desgastada.

Na minha idéia descartada,
desabei em falso desespero.
Meu reflexo no fosco espelho
remete minha face desmaculada.

Segue em frente um novo ser
de breves sonhos e solidariedade
por alguns dias no súbito paraíso.

Para quem sempre irá se perder
novamente em meio à mocidade
não anseia por ser um anjo decaído.


Ser Urbano.


Vai pra rua caminhar.
Vai pra rua procurar.
Não dá mais o que há.
Não dá mais pra esperar.

Luta para se vencer,
deixa tudo a perder.
Essa falta de ter
se aplica no viver.

Tenta sempre suprir
com ilusões a fluir
as virtudes que vão
e a vida na contramão.

Nunca vai acabar,
lembre de onde está.
Sempre vai recordar
do amargo a chegar.

Você tenta entender
mais não quer se esconder.
O que há pra esquecer
só te faz ver você.

Mundo e imundo.


Percebo-me um pouco vazio hoje.
Não vejo, não toco, não sinto alguém
dentro de mim. Onde tudo era além
sobrou apenas um orgulho podre.

Enquanto ostento todas as vitórias
nulas, cega-se há pouco a minha alma
já dormente, não por dor, mas por trauma
das virtudes falecidas perante a escória.

Lapidando minha percepção para projetar
meus sentimentos em forma de chumbo,
encontro um caminho que me faz continuar.

Mesmo que isso dure alguns segundos,
já é tempo bastante neste meu pesar
para algo mudar nesse mundo imundo.