sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Identidade.


A mente move o corpo
e esse se perde sempre
na busca de algo novo,
de algo subseqüente.
Satura por um momento
todas as emoções vívidas,
nutrindo esse tormento,
inflamando as feridas.

Falido sobre pobres pés
se debruça na desilusão,
ansiando uma nova fé
que lhe atire na imensidão
escondida numa lição
antes nunca aprendida.
Uma essência poluída
nunca encontra salvação
só se afoga mais ainda
no caminho da perdição.

Beirando seu ego ardente,
o sujeito perde a sanidade.
A criatura mutante geme
não de dor, mas de piedade
pela própria alma decadente
sem forma, sem identidade.

Megalomaníaco.


Dor? Que dor? Não sei o que é isso...
Meus pés não tocam o mesmo chão
duas vezes, sou filho de Eva com Adão
e também habito o mesmo paraíso.

Não sofro por nada nem por ninguém.
Meu coração é um escudo contra o olhar
que vem para tentar tomar ou desviar
toda beleza que nasce de mim, o além.

A perfeição é realidade num rosto
que sorri ao se auto-contemplar
diante da inferioridade distante.

O amor só existe para os poucos
que possam ter o prazer de amar
e idolatrar meu divino semblante.

No Limbo.


Minha mentira é devoção
aos olhos de quem teme virtudes.
Pensamento vago, caminhos já trilhados,
loucuras sem devaneios...
Passeio pelos becos sem saída
e encontro meus sonhos ao chão,
seguindo o rastro de lugar nenhum.

Derramo sangue nas galerias
de uma rotina sólida, imutável,
sempre agonizante e sufocada.
Em meu rosto há um semblante
pré fabricado, olhar vazio, aceitável.
Sentimentos são descartáveis,
pode-se ter o que se quer, se assim quiser.

Com pés de chumbo me desloco
de um lado para o outro, nunca em frente.
Meu corpo dormente dança
a dança dos desmaculados.
Desafio as virtudes sóbrias
na espera de um descaso
cada vez mais distante,
fora do contexto palpável.
Delirante, sigo rumo ao limbo
que já aguarda meu descanso.

Em frangalhos me arrasto ao precipício
alojado nas entranhas da existência
fúnebre, reflexo de morte.
Talvez, em algum dia de sorte
possa encontrar o paraíso perdido
no longo caminho que percorri,
a fim de trazer a tona o inferno
que habita dentro de mim...