terça-feira, 27 de abril de 2010

Noite Súbita.


Vejo o pôr do sol

como se fosse o início.

Vivendo de indícios,

nada mais que isso...


Debruço-me nas nuvens.

A noite me chama,

a lua me aclama,

minha mente não se engana.


Me atiro dentro do fogo.

Sigo a linha sem pedir socorro.

Boca fechada, engulo o esporro.

Meu pecado é não ser tolo.


Passos pela rua escura

apaixonado, sem temer.

Sei que sou minha aventura,

não consigo esconder.

O que já não me cura

nunca me fará padecer.

Conto minha história muda,

persistente e fecunda,

embrião do amanhecer...


Quando a noite vem me beijar.


Doce fruto à colher.

Semeia a alegria

mesmo que tardia

nessa noite a morrer.

Não tente correr de mim,

estou bem atrás de você.

Onde você for estarei

aceso como a lua,

te quero sempre crua,

nua, minha paz é sua.


Em sua boca vou repousar,

não há como recusar.

Me deito em seus braços,

me atiro ao acaso

e não disfarço meu descaso.

Doses e mais doses

e, de gole em gole,

vou para mais longe

de tudo que me comove,

de tudo que me consome

e morre...


Espelho do belo.


Curva-te pela negligência efêmera

que existe na vaidade corrosiva,

alimentada pela cegueira nociva.


Curva-te pela ferrugem afetiva

que oxida os sentimentos puros

e abre mão da natureza humana.


Curva-te ao orgulho fúnebre

que te acompanha sempre

desde o dia em que viste o sol.


Curva-te à covardia por natureza,

alimentando-se da própria essência

que já não te nutre a muito tempo.


Curva-te à tua nobre elegia.

Curva-te à tua vida e a tua morte.

Curva-te, e nada mais...