sexta-feira, 28 de maio de 2010

Inatural.


Penso, logo desisto.

Me entrego ao mundo

feito de novidades súbitas,

de sentimentos fúnebres,

de pensamentos de ontem.


Com meus pés de chumbo,

me arrasto pelos becos úmidos

em busca de uma nova verdade,

sem sentido, sem vontade.

Caio em um berço nocivo

desejando por um abrigo

com paredes ilusórias

e teto despedaçado.


Atirado aos bocados

e sobrando nos cantos.

Repito a mesma anedota

à espera de um sorriso,

mesmo que seja cínico.


Longe de mim e de todos,

definho a minha natureza

a fim de construir uma beleza

plástica e suportável a olhos nulos,

retrato da mais pura incerteza.

Termino, então, meus dias ordinários

descartável e desumano.


Fútil amor furta cor.


Meu, teu, nosso.

É tudo ócio e rancor,

dividido entre o calor

Esquecido lá trás.

Toda dor se desfaz

num soprar narcisista,

num tocar masoquista,

adiando o tormento

já impresso na vista.


Costuro os retalhos

espalhados de mim.

Sem a cor veio o fim

afogado em abraços

cegos e amargurados.

Repito meu caminho

naufragado em amor

sujo e mau resolvido,

um pedaço de calor.


Adeus no crepúsculo.

Até breve, se possível.

Esta receita infalível

reflete meu mundo.

Meu semblante crível

já não me é aceitável.

Fantasio tempos nulos

desejando algo novo,

que não seja estorvo

a um sentimento falido.


Mais um dia perdido

na imensidão em ruínas.

Pensamentos em cinza,

orgulho descolorido.

Meu pesar, meu abrigo.

Deixo-me levar, paciente,

pelos ventos mais quentes

e olhares sempre frios...


Outrora.


Acho que perdi minhas verdades

em meio a este mundo turbulento.

Sei que, por mais que sopre o vento,

não expulsará todas as nocividades.


Lembro das promessas de felicidade

que me acolhiam em cada amanhecer,

agora se enche de mágoa o meu viver

por negar-me alegrias sem necessidade.


Faço de minhas lembranças referência

das mazelas e euforias ainda residentes

na minha mente, navegante em outrora.


Levo nos ombros o pesar da decadência,

numa jornada nula e sem precedentes

pelas ruínas de um paraíso que joguei fora.


Rosa do submundo.



Por que queres um novo mundo
se tens um que amas e, por medo
ou covardia, o abdica sem guerrear?!
O fraco fecha os olhos e baixa a cabeça
em sinal de luto por si. O forte
sorri frente a morte e desdenha-a
da natureza vigorosa que o compõe.
As cicatrizes são a lembrança de uma batalha
honrosa, a dor, o caminho para a glória.

Quem teme a própria história
não merece tê-la escrito!
O fruto doce precisa de uma boca
amarga para sentir seu real sabor.
Não negue a dor que precede o alívio,
pois, quando este alcançar, não haverá
arrependimento pelo sangue cedido...

A virtude é sentido em sua essência.
Passa guerra, passa frio, passa dor,
o que fica é o amor a reinar nas ruínas
de um terreno em primavera.
Esquecer dos sonhos é padecer
eternamente em um coma induzido,
como uma rosa do submundo,
implorando por um raio de luz
que a permita desabrochar e exalar
seu mais puro e doce perfume...

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Testemunho.

Esqueço o que perdi
frente à novos lugares.
Novos olhares vêem
espaços descartados,
esquecem-se os retalhos
que passeiam nas ruas...

Quem me dera ser um só
navegando na pluralidade.
Plena luz, pouca vaidade.
Sentinela de uma nova verdade,
esculpida num coração petrificado.

Caminhando à curtos passos
vou de encontro aos horizontes
ainda não aventurados.
Deixo meu legado aos novos
viajantes dessa jornada interminável.

Aqui jaz o meu triste fim.
Desço até o inferno que há em mim,
assassino meus demônios, recomeço.
De um ventre improvisado, renasço.
Me inicio assim como me terminei,
cego, louco, perdido, esperançoso...

Exílio.


Lembro daquela tarde

onde tudo se encontrou

e o tempo parou

bem no meio da cidade.

Eu sonhava acordado,

não importava mais nada.

O sentimento falava

para Eu ficar ao teu lado.


Tudo era perfeito.

Ninguém podia controlar

o sentimento a brotar

sem nenhum receio.

Mas a chuva chegou

para afogar minha alma

antes repleta de calma

sem temer nenhuma dor.

Quando dei por mim

já era tarde demais.

O que estava por trás

anunciou o certo fim.


Tentei não acreditar.

Fechei meus olhos caídos,

condenei-me ao exílio

mais uma vez sem voltar.

Meu corpo adormecido

não encontrava o abrigo

que antes estava lá

feliz por me esperar.


Me chama sem demora

e fala da boca pra fora

que ainda sente meu cheiro,

que tem saudades dos beijos.

Naquela triste hora,

um intenso desejo

batia dentro do peito

sem querer ir embora.


Mas o que sobrou agora

ficou sem ter sentido

no meio desse desvio

que fingia nunca acontecer.

E o que parecia ser

se transformou em verdade

naquele dia covarde,

quando te vi pela última vez.