sexta-feira, 23 de abril de 2010

O Louco.


Para que serve a doçura

de um sorriso descartável,

a pureza indesejada,

o calor que esconde o frio?

Memórias de um vazio

que preenchem a matéria

oca e plástica, mas ambulante,

numa silhueta fantástica

e uma sombra em trapos.

Olhares desperdiçados,

desfocados, despedaçados,

mendigando uma alegria

que sane sua desarmonia.


Eis que surge o Louco

com sua mágica sabedoria,

encantando os corações

desnutridos, secos de amor.

Sussurra nos ouvidos graves

belas canções de primavera,

perfumando o ambiente

e revelando a beleza

escondida nas entranhas

úmidas dos macacos a rigor.


Depois de embriagados

em euforia, os bonecos marcham

para suas respectivas nocividades,

num desfile marcial, sem busca

ou ideal, uma confortável ilusão.

O Louco se vê em seu espelho

quebrado, indefinido, e sorri

por não enxergar ali

o seu mundo arruinado.


É o Louco um lixo, um pouco,

um rico, um moço sofrido

que oferece abrigo a um corpo

cansado. Vive de descasos

e desencantos, e ainda canta,

mesmo que roucamente,

essa lúcida loucura...


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