Para que serve a doçura
de um sorriso descartável,
a pureza indesejada,
o calor que esconde o frio?
Memórias de um vazio
que preenchem a matéria
oca e plástica, mas ambulante,
numa silhueta fantástica
e uma sombra em trapos.
Olhares desperdiçados,
desfocados, despedaçados,
mendigando uma alegria
que sane sua desarmonia.
Eis que surge o Louco
com sua mágica sabedoria,
encantando os corações
desnutridos, secos de amor.
Sussurra nos ouvidos graves
belas canções de primavera,
perfumando o ambiente
e revelando a beleza
escondida nas entranhas
úmidas dos macacos a rigor.
Depois de embriagados
em euforia, os bonecos marcham
para suas respectivas nocividades,
num desfile marcial, sem busca
ou ideal, uma confortável ilusão.
O Louco se vê em seu espelho
quebrado, indefinido, e sorri
por não enxergar ali
o seu mundo arruinado.
É o Louco um lixo, um pouco,
um rico, um moço sofrido
que oferece abrigo a um corpo
cansado. Vive de descasos
e desencantos, e ainda canta,
mesmo que roucamente,
essa lúcida loucura...
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