sexta-feira, 23 de abril de 2010

Cinzeiro.


O cinza dos meus olhos se perde

no preto e branco da cidade em sonho.

Assisto, passivamente, o mundo viver.

Uma harmonia entre angústia e prazer

me toma a mente, me tira o sono,

me faz desejar ser o que não se é.

A poeira da janela chega as minhas

narinas carentes como se tudo fosse,

nessa rotina inevitável por opção.


E nesse conto de fadas barato,

meu príncipe encantado é um cigarro,

que enche meus pulmões de êxtase

a cada tragada. Meu amante Whisky

só encontro nas noites frias, que pena.

Deixar a masmorra que Eu mesmo criei

não é uma tarefa tão simples...


Meu mundo é um cinzeiro.

Deposito a matéria morta da vida

que traguei junto aos goles que bebi.

Deito em minha cama vazia e desejo

por alguns instantes aliviar minha libido

com pensamentos sujos de uma madruga

de sexta-feira em um quarto escuro.


Sangue quente e suor frio. Vertigem.

Corpo e alma dilacerados. Um pouco de blues

e suicídio a cada crepúsculo anunciado.

Nada é sempre tudo, e tudo já é o bastante.


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