Que o dia vire noite, com canções silenciosas,
onde só os ouvidos mais versáteis possam
escutar as pulsações dos corações agudos.
Que meu corpo seja sempre abrigo fiel
contra o escárnio gratuito oriundo
da cavala disfarçada de cordeiro.
Que minhas pernas sempre estejam vigorosas,
levando-me aos mais belos cumes
e as mais belas vistas que a existência cultiva.
Que os ventos soprem minha face úmida
e seque as lágrimas que a vida trouxe
para lubrificar meus olhos e minha alma.
Que voz rouca sussurrando em meu ouvido
não deseje uma voz macia, dotada de artifícios
ansiosos por uma mesmice efêmera .
Que meu sangue mantenha-se quente
esperando o frio das noites amargas e escuras
dos devaneios mundanos e pseudo-carnais.
Que minha mente esteja aberta às surpresas
esperadas, mesmo que, por um instante vazio,
eu me esqueça das profecias mal esclarecidas.
Que a mesmice paire sobre os seres ocos,
pois estes não merecem as pernas que tem,
por locomoverem-se sobre as rodas que o egoísmo talhou.
Que minha caminhada não seja nula
perante a olhos famintos e salivantes,
cegos em sua desgraça precoce.
Que minha necessidade me mantenha de pé
frente as maiores desventuras nascentes
e demonstre toda a virtude remanescente...
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